Educação sexual é uma urgência a ser falada, principalmente quando falamos de pornografia
A pornografia é um fenômeno social amplamente discutido e, muitas vezes, cercado por polêmicas e desinformação.
Embora existam diversos impactos negativos associados ao seu consumo, a abordagem sobre esse tema deve ser embasada cientificamente para evitar confusão e estigmatização.
Dentre os principais efeitos negativos do consumo de pornografia, destacam-se:
- A normalização e erotização de comportamentos relacionados à violência e abuso sexual;
- A humilhação e exploração de menores, o incentivo ao sexo desprotegido e a propagação de conteúdos altamente sexualizados e, muitas vezes, desumanizantes;
- A reprodução de temas sensíveis, como incesto, homofobia e racismo, presentes tanto em conteúdos gratuitos quanto pagos;
- O envolvimento com exploração sexual e tráfico humano;
- O desinteresse por parceiros reais, que passam a parecer “menos interessantes” em comparação ao conteúdo consumido.
Essas consequências reforçam a necessidade urgente de maior educação sexual, especialmente para aqueles que consomem pornografia de forma excessiva.
Quer saber mais sobre o assunto? Continue lendo este artigo.
A Evolução da Pornografia e Seu Impacto Atual
Historicamente, desde a epoca das cavernas, a pornografia sempre esteve presente na sociedade, assumindo diferentes formas, desde representações gráficas e literatura erótica até registros audiovisuais modernos.
Da mesma forma, sempre existiram comportamentos sexuais condenáveis na sociedade,os quais foram e continuam sendo condenados com base em valores morais e religiosos.
Entretanto, o avanço da tecnologia trouxe transformações significativas, tornando o acesso à pornografia instantâneo, anônimo e barato.
Com o crescimento do tempo de exposição às telas, a pornografia passou a ocupar um espaço mais expressivo na vida dos indivíduos.
Plataformas como OnlyFans e Kemin Connect ilustram a transição das antigas revistas e casas de prostituição para o ambiente digital.
Comportamento Problemático e a Falácia do “Vício”
É muito importante diferenciar o uso ocasional da pornografia, de um comportamento problemático em pornografia.
Para alguns, a pornografia é uma fonte de diversão, entretenimento, excitação e exploração de fantasias sexuais. No entanto, quando seu uso se torna excessivo e interfere negativamente na vida do indivíduo, pode indicar um problema subjacente.
O termo “vício em pornografia” é amplamente usado, mas carece de embasamento científico sólido. Ele reforça estigmas e mal-entendidos, especialmente em um contexto de tabus sociais e falta de educação sexual.
A ciência indica que o uso problemático da pornografia está mais relacionado à desregulação emocional. E diferentemente das dependências de drogas químicas, o consumo de pornografia não segue o padrão de tolerância crescente e necessidade de doses maiores para obter o mesmo efeito.
A masturbação é frequentemente associada ao “vício em pornografia”, no entanto a masturbação não é um problema em si. Pelo contrário, pode trazer benefícios à saúde, como alívio do estresse e autoconhecimento. É fundamental diferenciar a masturbação saudável de condições como compulsão sexual e parafilias, que envolvem padrões de excitação exclusiva por fantasias específicas.
Desregulação Emocional e Julgamento Moral
O ponto central é a relação entre o consumo problemático de pornografia e a desregulação emocional. Na maioria dos casos, o uso excessivo de pornografia é um sintoma de transtornos subjacentes, como ansiedade, depressão, transtornos de humor, de personalidade ou TDAH, e outros por exemplo. Dessa forma, com certeza, a pornografia atua como um catalisador, exacerbando dificuldades já existentes.
Outro aspecto relevante é que o sofrimento advém do julgamento moral de si e de terceiros. O sofrimento pelo consumo de pornografia vem devido à incongruência entre “meus valores e comportamentos sexuais que eu acho que deveria ter e esse monte de acesso que posso ter.
Isso ocorre, por exemplo, quando o indivíduo internaliza o conceito de que pornografia e masturbação são moralmente erradas, um pensamento reforçado por discursos moralizantes religiosos e sociais. Esse julgamento moral gera culpa e vergonha, intensificando o sofrimento.
A literatura atual tem explorado um conceito emergente: o “Comportamento Problemático em Pornografia Autopercebido”. Nesse caso, o sofrimento do indivíduo não vem do consumo em si, mas da percepção de que esse comportamento é inadequado, e imoral, levando o indivíduo a buscar por tratamento.
O Papel da Educação Sexual e da Terapia
O verdadeiro problema não está na pornografia, mas sim no contexto de seu consumo: o fácil acesso, a falta de educação sexual, crenças moralizantes e a ausência de suporte terapêutico para lidar com a regulação emocional em relação ao desejo e à sexualidade.
Dessa forma, a pornografia não é necessariamente a causa dos transtornos, mas um reflexo de problemas mais profundos.
A sociedade contemporânea sofre com um paradoxo: ao mesmo tempo que a pornografia é amplamente acessível, a discussão sobre sexualidade ainda é envolta em tabus e discursos moralizantes que geram doenças.
Essa contradição gera um ciclo de culpa, vergonha e sofrimento, que poderia ser minimizado com maior educação sexual.
A Terapia Cognitiva Sexual surge como uma ferramenta valiosa para investigar os processos que desencadeiam, mantêm e agravam comportamentos problemáticos. Ao invés de focar exclusivamente nos sintomas, a terapia busca compreender e tratar as causas, auxiliando o indivíduo na regulação emocional e na construção de uma relação mais saudável com a própria sexualidade.